Entrevista exclusiva com o Capelão Edilson dos Reis sobre o uso das Drogas nessa nova geração de Jovens e sobre Perdas e Luto e Pessoas que estão passando por Luto por Suicídio
O Capelão Edilson dos Reis está há 30 anos na HUMAP/UFMS e também é Major Capelão RR do CBM/MS, Psicólogo CRP 14/09683, Teólogo e Filósofo e tem especialidades como ministrante de palestras com os temas: Manejo em crise suicida, Saúde Mental, Bioética (Disciplina que norteia as condutas moral e profissionais da área de saúde) e Dependência Química.
Observatório – Quais os principais fatores que influenciam o processo do luto por suicídio?
Capelão Edilson dos Reis – A questão do luto por suicídio é um dos lutos mais angustiados e de mais sofrimento que existe em decorrência a um processo de culpa. São dos familiares e amigos próximos da pessoa que cometeu suicídio. Para a literatura, nós chamamos de sobreviventes do suicídio, os que perdem uma pessoa pelo suicídio e isso traz um agravamento muito grande, segundo a Organização Mundial de Saúde. Quando uma pessoa comete suicídio ela abala emocionalmente e até financeiramente de seis a doze pessoas diretamente. Só que esse número é muito maior quando este essa pessoa que comete suicídio é uma criança, um adolescente, um jovem. Então a morte por suicídio ela é muito impactante neste processo que envolve a questão da perda.
Observatório – O que é efeito contágio?
Capelão Edilson dos Reis – A morte por suicídio ela tem outra peculiaridade muito mais agravante que ele pode ser o que a gente chama de efeito contágio. São pessoas agindo por imitação da mesma forma como a pessoa cometeu suicídio. A questão do luto tem que ser muito trabalhado, muito acolhedor para amigos, familiares que estão passando por esse processo.
Observatório – Essa nova geração tem limites emocionais?
Capelão Edilson dos Reis – É bem complexo em falar dos limites emocionais dessa nova geração. Porque nós temos várias teorias formuladas de que não é uma geração que sofre mais. Mas infelizmente o que temos observado? O último grande estudo da Organização Mundial de Saúde sobre o levantamento de Saúde Mental no mundo, que foi publicado em 2020 trouxe um alerta muito grave um bilhão e meio de pessoas no mundo e 14% dos adolescentes do mundo tem algum transtorno mental, então a questão não é essa geração, são os dados que hoje aparece e principalmente as notificações de tentativa de suicídio que hoje são registrados, que são chamados notificações compulsórias. Então os dados estatísticos de hoje são de casos de tentativa de suicídio por faixa etária e o método utilizado coisa que alguns anos atrás nós não tínhamos. Então sempre houve um desgaste emocional, sempre houve uma um sofrimento em crianças, adolescentes, jovens. Não tínhamos dados e estatísticas e hoje nós temos. Então muitas vezes a gente se assusta com esses dados, com essas informações que hoje elas vêm muito mais rápido pelas redes sociais e a internet trouxe uma publicidade muito maior do que antes tinha, mas era oculto para nós da sociedade
Observatório – Os jovens de hoje usam drogas como se fosse fumar um cigarro. Como fazer entende-los que pode causar uma dependência?
Capelão Edilson dos Reis – Bom, quanto a dependência química nós temos que entender que as causas que levam uma pessoa a ter a dependência química não é uma única causa, mas infelizmente a maioria das vezes a dependência química tem causas e multifatorial que abrange a dificuldade cognitiva, dificuldade de lidar com frustrações, como traumas, sofrimento infantil, abuso sexual, violência infantil, violência física, depressão, tristeza sem motivo.
Quadros de ansiedade também de querer participar de um grupo, fazer parte daquele grupo. Mas quando se fala em dependência química, nós achamos que é alguém que está usando uma droga pesada, e ao contrário, é, mas também nós temos a dependência química de álcool. O alcoolismo hoje, infelizmente, uma das doenças mais letais no mundo que leva infelizmente o dependente químico ou o dependente do álcool, a morte prematura, a loucura que abrange homens, mulheres de todas as camadas sociais, de todos os níveis culturais que infelizmente é uma doença democrática. O álcool hoje é uma das doenças mais letais pelo fato que ela destrói o ser humano na sua essência de ser tanto no padrão da moralidade como nas relações de interpessoais causando e conduzindo a agressividade, irritabilidade e violência. Então a grande preocupação que as estatísticas mostram que quase 20% das pessoas que cometem suicídio estão sobre efeito de álcool ou drogas. Então a dependência química ela é muito mais complexa do que nós imaginamos, principalmente quando envolve criança e adolescente
Observatório – Como a família pode ajudar um dependente químico?
Capelão Edilson dos Reis – Como a família pode ajudar um dependente químico é outro fator muito complexo pelo fato que tentarem nós precisamos tentar entender o que levou a pessoa a usar a substância entorpecente ou se tornar um dependente de álcool e drogas por meio do acompanhamento da família Os dependentes químicos, seja de álcool ou drogas, passam a receber atenção e apoio. Não somente em relação aos seus sentimentos negativos, como também receber informações e apoio nos momentos de crise. Mas nós estamos lidando com pessoas altamente dependente química que eles tem a necessidade do uso da droga ou do álcool no sentido do prazer de recompensa. Não que ele não queira sair, ele tem o desejo de deixar o uso da droga ou do álcool, mas o que potencializa a não o abandono do álcool, a droga, mas sim é o prazer de recompensa onde ele tem a satisfação daquilo.
E o mais preocupante é que esse dependente químico ele vai ter alterações cognitivas, alterações emocionais e até da sua personalidade. Aonde ele vai ficar, ele vai se transformar numa pessoa arrogante, prepotente, mentirosa, chantagista, manipuladora. Vitimismo, ele vai apresentar perfis de personalidade com a mente infantil, grandeza e satisfeito. E muito difícil você tratar um dependente químico. A família se não tiver uma orientação de um profissional, de um médico, de preferência psiquiatra ou um psicólogo que tenha conhecimento de todo o manejo envolvendo dependente químico pelo fato que dependendo da situação os familiares se tornam codependente dele. É uma Co dependência dele pelo fato que ele ele se torna uma pessoa hábil e manipular e chantagear e e eles têm recursos.
Pra conseguir os seus intentos, nunca assume responsabilidades, sempre culpa os outros pelas questões da sua dependência. Então é muito difícil aí que vem buscar ajuda especializada e principalmente os narcóticos anônimos e os alcoólicos anônimos eles tem ali pessoas são locais eh públicos mas restrições do anonimato que você pode entender e compreender o mecanismo de funcionamento da mente, do comportamento, sentimentos e emoções de um dependente químico. Porque só assim você poderá lidar com ele com principalmente com sensatez e equilíbrio e não ser vítima da sua chantagem, da sua manipulação.
Observatório – Onde as pessoa podem procurar ajuda, sociabilidade, validação de reações de perda, bem como de aprendizagem de novos comportamentos e ações frente a perdas e luto?
Capelão Edilson dos Reis – Bom, um local que nós temos hoje é o grupo de apoio ao luto aqui da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul que foi criado e está funcionando desde abril deste ano. É um grupo de apoio as pessoas em luto. Ele funciona todos os sábados, das 14h às 16h, na Unidade 6, ao lado da Biblioteca Central.
Mato Grosso do Sul era carente em um centro de estudo, pesquisa que abordava o tema de perdas e lutos e foi criado aqui no Hospital Universitário da Universidade Federal o núcleo de estudo e pesquisa do luto aonde nós temos estudado, pesquisado e criamos um grupo de apoio o qual estou responsável com a intenção de acolher as pessoas que nesse processo de perdas e luto, gratuitamente.
Observatório – Algo mais?
Capelão Edilson dos Reis – Nas nossas considerações nós temos que colocar e agradecer a oportunidade de esclarecermos pontos de temas altamente polêmicos que são tratado como tabu na sociedade mas que atinge a todos quando algo ou alguém comete suicídio é impactante, são perdas impactantes. Então o suicídio ele pode ser evitado quando nós entendemos o manejo do acolhimento, principalmente no ambiente familiar.
E principalmente conduzir o sujeito e sofrimento com ideação, pensamento de morte a aderir esse tratamento. E o tratamento, infelizmente, é duradouro, é um tratamento longo, mas com o apoio da família, dos amigos, a gente pode sim reverter essa situação de desejo de morte. Quanto a dependência química, infelizmente, é outro tema muito muito complexo. Eu que tenho a especialização em dependência química, tratamos em consultório, tratamos na clínica. Dependente químicos a gente observa que hoje temos crianças com doze, nove, sete, oito anos de idade totalmente dependente de álcool e drogas.
Então é um alerta! Precisamos trazer pro debate da sociedade essa questão. Precisamos tratar isso com seriedade. A maconha é uma droga que potencializa outras mais fortes. Então não existe uso recreativo da maconha. Isso é uma mentira. Isso é o crime quem diz que usa o uso recreativo da maconha. A maconha é uma droga que as estatísticas mostram os estudos mas recente mostram que jovens, que utilizam maconha precocemente com a idade de vinte, vinte e cinco anos, vinte e seis anos estão apresentando quadro de esquizofrenia e a esquizofrenia é uma doença psiquiátrica irreversível.
Decorrente é o quê? Ao uso da maconha precocemente é na adolescência. Então esses debates tem que ser tratado com seriedade. E aqui eu venho para parabenizar a oportunidade de esclarecermos ao Site Observatório pela possibilidade de informar que em Campo Grande temos este espaço de acolhimento também para os alcoólicos anônimos, que serão acolhidos, droga e principalmente a família deste dependente onde poderá aprender a lidar e pra que não se torne um dependente emocional desta pessoa que tem o vício do álcool e da droga.