Neste Setembro Amarelo, dedicado à Prevenção do Suicídio, a ADUEMS entrevista o Dr. José Carlos Rosa Pires de Souza

Este mês é marcado como o Setembro Amarelo, sendo dedicado à conscientização sobre a importância da prevenção ao suicídio. O suicídio é uma realidade bem mais comum do que imaginamos e vem chamando atenção de toda a sociedade, tratando-se de um assunto bem delicado. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% dos casos de suicídio poderiam ser evitados. Hoje , 60% dos depressivos pensam em suicídio, 15% tentam.

Com o intuito de estimular o diálogo e a reflexão acerca da saúde mental, a ADUEMS entrevistou o Dr. José Carlos Rosa Pires de Souza, sobre prevenção ao suicídio, cuidado à saúde mental e sobre qual a melhor forma de se prevenir do adoecimento mental.

José Carlos Rosa Pires de Souza, Psiquiatra, Professor do Curso de Medicina da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, PHD em Saúde Mental, Especialista em Medicina do Sono, -Associado da ADUEMS e amigo do Esmael e do doutor Edgar e de todos vocês da ADUEMS.

Acompanhe e compartilhe.

ADUEMS – Como conscientizar as pessoas sobre o suicídio, bem como evitar o seu acontecimento?

José Carlos Rosa Pires de Souza – As pessoas tem que entender que o suicídio é um problema de Saúde Pública e é um problema de todos nós e de toda a comunidade. Mato Grosso do Sul está entre os maiores índices das capitais e estados com suicídio e o Brasil é o oitavo do mundo. Precisamos deixar de lado o tabu, preconceito, estigma e incriminar as pessoas por problemas de suicídio. Conforme estudos, 95% das pessoas que tentam suicídio tem algum distúrbio emocional que deve ser diagnosticado, conscientizado e tratado o mais rápido possível, sem distinção de religião, credo, idade, sexo, sem moralismo religioso, político de credo, etc.

ADUEMS – Estamos vivendo num momento da tecnologia, das redes sociais, WhatsApp e as pessoas se isolam nesses aplicativos. Isso influencia na saúde mental?

José Carlos Rosa Pires de Souza – A tecnologia tomou conta de nossas vidas fazendo que que as pessoas se isolem nesses aplicativos, ficando cada vez com menos autoestima. As redes sociais mostram grandiosidade de bens materiais e realizações pessoais, ou que querem ser o que não é, e/ou querem ter o que não tem e que não pode. E quem não tem fica mal, fica se comparando, e isso leva a frustração, baixa autoestima, sentimento de menos valia até podendo levar a depressão, ansiedade, angústia, ideias de suicídio.

ADUEMS – Como os docentes podem ajudar para que a saúde mental dos alunos não se comprometa?

José Carlos Rosa Pires de Souza – O Professor tem um papel importantíssimo, pois a sala de aula pode vir a ser a porta de entrada dos problemas sociais e de doenças. Muitas vezes os alunos vão até os professores reclamando de algum problema emocional, alguma frustração. O docente deve escutar sem julgar e encaminhar o problema para a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) que atende gratuitamente pelo SUS e avisar a família obrigatoriamente, mesmo que seja de maior. Lembrando que a Lei Federal no 13.803/2019, alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para obrigar os estabelecimentos de ensino a notificarem ao Conselho Tutelar que vai informar a Secretaria Municipal de Saúde para as devidas providências e tratamento nos Centros de Atenção Psicossocial, na UPA quando é urgência, etc, e assim o docente estará salvando uma vida.

ADUEMS – Os Professores também são muito afetados?

José Carlos Rosa Pires de Souza – Sim, os professores também são muito afetados, principalmente pela frustração frente a sua dedicação, comprometimento com o trabalho e muitas não há o respaldo do sistema, que também acaba afetando os docentes se sentindo frustrados, com alguns alunos não tem o comprometimento com os estudos e muitas vezes colocam os professores como responsáveis de coisas que eles não são. Temos hoje como exemplo o Burnout que é o estresse ocupacional relacionado ao trabalho e a depressão e risco de suicídio e tentativa e morte por suicídio, muito comum também em professores.

ADUEMS – O que podemos fazer para ajudar essas pessoas?

José Carlos Rosa Pires de Souza – Conversando com a pessoas, perguntando o que está acontecendo, porque seu humor e seu comportamento está mudando. Perguntando se você pode ajudar a levá-la para um atendimento ou mesmo avisar a família. Isso é de extrema importância. A pessoa se sentirá acolhida, e lembrando sempre falando pouco e ouvindo muito mais.

ADUEMS – Existem programas dentro da universidade para auxiliar os alunos e os professores?

José Carlos Rosa Pires de Souza – As Universidades tem sempre um Centro de Apoio aos alunos, a exemplo do grupo de medicina da UEMS, que tem o CAAD, que é a Comissão de Apoio Docente e Discente, com psicólogos que fazem esse acolhimento aos alunos. Ainda há falta de Programas, e recentemente tivemos uma reunião com o reitor e o vice-reitora, solicitando um programa preventivo de saúde mental e ao suicídio para técnicos administrativos, professores, alunos, toda comunidade universitária.

ADUEMS – Como prevenir o suicídio por meio da Educação?

José Carlos Rosa Pires de Souza – Primeiramente para se previnir precisamos de informação e tentar com o poder de convencimento para a pessoa buscar um tratamento, um acompanhamento, uma acolhida e a educar em sala de aula. Educar na sala de aula é primordial,v pois é uma das maneiras de previnir o suicídio, levando especialistas para abordar o tema e fazer um debate para escutar os alunos, como por exemplo: um professor da medicina, da área da psiquiatria, um psicólogo da UEMS, da GAV (Grupo Amor Vida de prevenção ao suicídio), ou alguém do CVV, do bombeiro, etc. Após a roda de conversa, fazer um levantamento dos assuntos tratados, informações e sugestões e encaminhá-las para a prevenção primária.

ADUEMS – Quais os cuidados que temos que ter para a nossa saúde mental?

José Carlos Rosa Pires de Souza – Primeiramente: Cuidar de si para poder cuidar dos outros! Fazer um check-up físico emocional, social e espiritual que são estratégias de enfrentamento ao estresse do dia a dia, que são mecanismos de defesa do nosso psicológico. Procure também praticar alguma crença, alguma religião ou então assistir vídeos de motivação, de meditação e também se cuidar na parte social: Pratique o lazer, evite conversar sobre trabalho, fora do trabalho, estreite relacionamento com as pessoas, não somente com os familiares, mas amigos, vizinhos, etc. Os cuidados são de uma forma geral, biológico, físico, psicológico, social e espiritual.

ADJEMS – Algo mais?

José Carlos Rosa Pires de Souza – Dizer que é muito importante filiar-se ao seu Sindicato, pois além de lutar pelas nossas conquistas, a entidade também auxilia emocionalmente, no lazer, na educação, na informação e no respaldo jurídico.

Eu mesmo sou testemunha de muita ajuda que recebi da ADUEMS, tanto do nosso querido eterno presidente sempre amigo Esmael Machado, como também do doutor Advogado Edgar, nos momentos em que mais precisei e me defenderam mesmo não estando filiado.

Foi neste momento que entendi o papel do Sindicato e a importância de estar filiado. 

E dizer aos professores: Vocês não são os pais dos alunos. Nós somos educadores da sala de aula. Com a educação principal de infância vem de berço, vem de casa. Que muitas vezes eles passam na quatro, cinco, seis anos conosco e não mudam nada aquela educação de berço, seja ela boa ou ruim, tanto faz.

Agradecer a ADUEMS por oportunizar a falar sobre a prevenção do suicídio que é um tema de suma importância para toda comunidade.

Outras notícias

Leave a Comment