GILBERTO VERARDO – Psicólogo humanista
Vida é movimento. A pandemia nos mostrou isso, com a quarentena, interrompendo projetos pessoais de uns com os outros. As interações são o alimento da engrenagem social e um sentido para a existência humana. De pouco adianta, arrumar explicações, a respeito das consequências causadas pelos métodos adotados na administração do evento pandêmico. Muitos nem querem tocar no assunto. Varrem para baixo do tapete, aquilo que poderia ser fonte de novas aprendizagens. Ficou apenas nas mentes dos especialistas. Acrescente-se a isso, uma passividade, quase natural, das classes sociais A, B e C, especialmente àquelas relacionadas às coisas do Bem Comum. Bem do tipo “não sou obrigado a resolver problemas alheios”. É um tipo de inércia, sem dúvida. Temos ainda um evento climático nos dizendo para mudarmos nosso modelo de vida social e ambiental, ou ele será nosso calvário. Com isso, a saúde do tecido social, das instituições e das pessoas, acentuando-se com crises não superadas, está caminhando para um colapso, caso a inércia permaneça. Não se trata, a inércia aqui, de ausência de movimentos ou ações, mas do alcance e duração delas. Crises existem para nos mostrar a funcionalidade ou não das nossas atitudes. Neste contexto, há mais estranhamentos e divergências, que empatias e debates objetivos à respeito das demandas sociais. Talvez a maior dessas crises, seja a do poder constituído, ou imposto, já que avocam para si, as iniciativas sobre os caminhos da humanidade. Paradoxalmente, é a crise do poder confuso. Ironicamente, é a ansiedade um estágio psicológico entre inércia e ação, pois sua função principal é provocar movimento. Sair da inércia.
Na geopolítica, têm-se os nacionalismos. Cada vez mais uterinos na defesa de seus territórios. Nas instituições, responsáveis pela preservação e aprimoramento dos usos e costumes, a credibilidade perde força e influência, quase que canalizando para a religiosidade, o papel de controle social relativo aos valores morais, especialmente àqueles que estão entre a barbárie e o civilizado das condutas humanas. Muitos deles se perderam no caminho. Roubaram a aura celestial. Na dimensão individual temos a Depressão, expressando afastamento e/ou negação da realidade presente. Segundo a ONU, tornou-se uma epidemia. O número de pessoas que vivem com depressão aumentou 18% entre 2005 e 2015, corroborando o que aponta um novo relatório global lançado recentemente pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, a depressão atinge 11,5 milhões de pessoas (5,8% da população), enquanto distúrbios relacionados à ansiedade afetam mais de 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população). São muitos milhões a merecerem atenção. A nosologia psiquiátrica não convence mais ninguém. É o meio social, sem cor, sabor e rumo, o grande responsável. Tal quadro, só alimenta as poderosas indústrias farmacêuticas. Isso pode ser um sintoma(reação), de que perguntem, silenciosamente, esses milhões, onde estariam os laços sinceros e sem mágoas, neste processo civilizatório de geração 5G e outras inteligências artificiais? Não sei o preço a ser pago, diante deste panorama de presença tecnológica acentuada e laços humanos frágeis.
Evidentemente, os últimos eventos na década passada e nesta, como a pandemia; rusgas entre os poderios bélicos do planeta; tempestades; calor forte; ganância; agressividade a flor da pele, entre outras, indicaram, neste conjunto de situações, que algo não está bem, apesar dos discursos oportunistas, querendo equilibrar a balança social entre 5G e alienação dos deprimidos. A atual sociedade anda um pouco artificial em muitas e muitas coisas. Corpo e mente ainda não, para não reagir a este cenário do ambiente socia. Tocando nesta pauta, quase invisível, fica parecendo que é de outro planeta. Freud avisava! A sociedade neurótica, é aquela que não consegue enxergar o óbvio. Quando deixamos de perceber o que nos cerca, corremos sempre o perigo de sermos seduzidos por sonhos disponíveis no mercado da realidade paralela.
Enquanto isso, outros tantos mortais tentam reinventar seu cotidiano, buscando afetos instantâneos, com ou sem cama, como forma de salvar a esperança nesta vida civilizatória, porém pouco civilizada.