Por Andréia Cercarioli – Repórter do Observatório
Em entrevista exclusiva para o Observatório, Mariuza Guimarães relata que, com o atual governo “Gradativamente os recursos estão chegando à UFMS que é o nosso espaço de atuação, mas temos resquícios de uma política antidemocrática, sem transparência e personalista, o que nos impede de ver estes benefícios da forma como deveriam ser efetivados.”
A professora Mariuza Guimarães é doutora em educação pela UFMS, mestra em educação pela mesma instituição e pedagoga, com um vasto currículo na área da educação e atualmente presidenta da ADUFMS – Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Com a vitória do Presidente Lula o destino das universidades públicas mudou?
Já se sente que há novos ares na universidade, uma leveza que não existia no pós-golpe. A postura dos dois últimos governos criou um clima de terror e de medo das perseguições. O fantasma da ditadura rondou os nossos corredores que ainda tem feridas abertas da era pós-1964. Podemos dizer que a esperança de liberdade voltou, mas ainda é cautelosa. A extrema direita neofacista não está morta.
O corte de bolsas, negacionismo, fake news e perseguição do governo anterior comprometeram o desenvolvimento do ensino superior no país?
Do ponto de vista de uma universidade na qual se investe para produzir conhecimento que tem por objetivo atender as demandas da sociedade, em especial, as classes populares; a liberdade de ensinar e aprender, conforme previsto na LDB, foram grandes os prejuízos. Demoraremos um tempo para resgatar a universidade pública, gratuita, laica, de qualidade social, pela qual lutamos durante quase um século no país. Mas se o olhar for o dos privatistas, foi positivo, mais um pouco e a universidade deixaria de ter as características que para nós simboliza a universalização do conhecimento e que nos é tão cara.
O que fazer para haver uma mudança?
A palavra de ordem é MOBILIZAÇÃO. O governo que ora dirige o país é de uma ampla coalizão, com projetos de país diferentes e que se uniram circunstancialmente para lutar contra a extrema direita e suas ações nefastas que não representa alguns setores da elite brasileira neoliberal, portanto temos um governo em permanente disputa. Se quisermos recuperar nossos direitos e garantir a democracia como organização precípua para nosso país teremos que implementar ações contundentes para a organização de nossa categoria e promover as mobilizações necessárias para as conquistas de direitos.
Nos últimos anos, as universidades públicas tiveram redução de investimento. Em 19, Lula anunciou a recomposição de R$ 2,44 bilhões no orçamento do ensino superior. Este investimento já sendo utilizado em Mato Grosso do Sul para fortalecimento da educação superior e do ensino profissional e tecnológico?
Gradativamente os recursos estão chegando à UFMS que é o nosso espaço de atuação, mas temos resquícios de uma política antidemocrática, sem transparência e personalista, o que nos impede de ver estes benefícios da forma como deveriam ser efetivados. A universidade ainda trabalha com empresas terceirizadas para atender aos serviços básicos e gerais, comprometendo a sua continuidade pelas sucessivas desistências destas empresas, ainda vemos a Educação a Distância substituindo a educação presencial, sobretudo nas unidades do interior, que em tempo muito curto se transformarão em meros polos EAD, com forte impacto na qualidade e no tripé da universidade: ensino, pesquisa e extensão. Enfim, não basta apenas liberar recursos, temos que mudar a concepção de universidade que vinha sendo construído nos últimos anos.
O que falta nas nossas Universidades?
No caso da UFMS, a democratização dos conselhos superiores e demais espaços de decisão das ações a serem desenvolvidas; a transparência na aplicação dos recursos. Para ilustrar os tópicos apresentados, destaco as reuniões do Conselho Diretor e do Conselho Universitário, onde as manifestações são apenas as dos representantes do Sindicato dos técnicos, SISTA, e dos docentes, a ADUFMS. Estas reuniões têm acontecido de forma online, transmitidas por meio da TV Universidade, onde durante toda a reunião aparecem apenas o reitor e a vice reitora. As demais participações são por meio do chat ou da voz, mas sem a identificação visual de quem fala. Quanto aos recursos financeiros, muito deste se dão por meio de emendas parlamentares ou financiamento captados por projetos apresentados por docentes, com fomento externo. Estes recursos são administrados pela fundação vinculada à universidade, a FAPEC, que apresenta relatórios financeiros, conforme determina a lei. Mas a definição dos projetos contemplados por meio destes recursos não são transparentes. São editais aligeirados, publicados no período de recesso quando a maioria dos docentes estão em férias e aparentemente direcionados. As bolsas destinadas (definidas pelos coordenadores) tem valores altos e não há uma régua delimitadora. Questionamos em reunião do CD e recebemos como resposta que quem define bolsas e os respectivos valores, incluindo os de diárias, são os coordenadores/as.
Concurso Público, há previsão?
Sim, já foram aprovados dispositivos pelo governo que permitirá a retomada da realização de concursos públicos, ainda em 2023.
Quais os desafios nessa nova gestão do sindicato que você representa?
Dentre os desafios impostos pela conjuntura podemos destacar: a luta pela reposição salarial; a democratização dos espaços da UFMS, como: o uso de espaços físicos pelo sindicato para as suas ações em todas as unidades e campus, a superação da política de intimidação da gestão federal e local com vistas à promoção da liberdade de manifestação sem ameaça de punição; a ampliação do alcance da categoria, sobretudo, os docentes que ingressaram mais recentemente e que são os que mais perderam direitos; a melhoria em nossas estratégias de comunicação; entre outros.
Enquanto Presidenta quais as demandas pontuais prioritárias?
Conforme expresso em nossos desafios são muitas as demandas para a atual diretoria “ADUFMS PLURAL E DEMOCRÁTICA”, mas elegemos como demandas prioritárias a luta pela recomposição da carreira e dos salários e uma política de comunicação que dialogue com a categoria, seja para alcançar filiados e filiadas ou conquistar novas filiações.