Os sinais antepassados mais incríveis que conheci, foram aqueles de fumaça usados pelos índios Sioux e o Código Morse. Fantástico, como os seres humanos os usaram para se comunicarem. Próximos ou distantes, para o amor ou para a guerra, venciam distâncias, provocando atitudes.
Hoje, apesar do enorme conhecimento e variadas tecnologias de informação e comunicação, nossa capacidade de decifrar códigos e sinais, parecem insuficientes para conduzir algumas de nossas atitudes. Desacreditamos em nosso potencial de intuição. O homem virou uma máquina de calcular resultados. Muitos sabidinhos, chamam isso de cultura da racionalidade. Tal fator comportamental, alimentou a fome do tempo a devorar coisas úteis e inúteis. Não contagiou meus amigos poetas. Só os sensíveis conseguem decifrar sinais ignorados. Penso que eles sabem que nos tornamos apressados em tudo. Nem o pressentimento, que os antigos davam valor, escapou do mundo racional. As mudanças nas quatro estações do ano, antes bem delineadas, nos convidavam à preparação para novas atmosferas e novas paisagens, onde, de um mesmo lugar, nossa sensibilidade era provocada. Querendo ou não, quase nos obrigava a tirar os olhos do Ego pessoal. Isso nos dava uma sensação de cumplicidade com o ritmo do tempo e do vento. Tempo do sol, das flores, das chuvas e do frio avisando que o momento era de recolhimento e aconchego. Até o mundo animal era cúmplice nas diferentes estações do clima. Mesmo assim, criamos tecnologias para não sermos pegos de surpresa. A meteorologia criou cálculos e fórmulas para saber do comportamento climático. Depositou, em suas tecnologias, todo o saber sobre o tempo e o vento. Não precisava mais da antiga sabedoria popular dos anciãos da catinga nordestina, que se miravam nos sinais do frenesi do formigueiro, do avoar de pássaros e do cheiro do vento, para depois fazerem surpreendentes previsões de chuvas para o sertão ardendo em seca e quentura. Era uma boa capacidade intuitiva de associar diferentes sinais do mundo natural. Tinham seus acertos festejados com a chegada da chuvarada.
Desde o começo do século XXI estamos ignorando os sinais da atmosfera. Em especial, naquilo de mais essencial à vida humana – o oxigênio em seu estado puro. Menosprezamos um princípio elementar, de que em qualquer composição que se faça, não pode haver excessos impositivos. Devemos entender que predomínios são prejudiciais à qualidade da composição. Isso serve para o casamento de pessoas, de elementos orgânicos e inorgânicos, como os gases. Tal menosprezo chegou à atmosfera terrestre. O predomínio de alguns deles, como metano e o gás carbônico, por exemplo, bastou para desequilibrar a composição diplomática alcançada, no decorrer de milhões de anos, entre os componentes que deram origem à vida no nosso planeta. Viramos o rosto para sinais desequilibrantes do conjunto atmosférico. Demos preferência em antecipar sinais que ameaçassem os negócios de produção e consumo e naquilo que nossa prepotência dominadora nos pedia. Diante dos sinais ignorados, devemos avaliar nossas práticas sedentárias de consumo, já que estes invisíveis e mortais gases de efeito estufa, podem aniquilar toda uma espécie etnocêntrica – os humanos, sua “cadeia” alimentar, seus negócios futuros. Bom lembrar das aulas ginasianas de química inorgânica, que alertava que o calor torna os gazes mais voláteis. Trocando em miúdos: mais calor igual a mais ventos amalucados e imprevisíveis. Dá para imaginar a ansiedade dos cientistas climáticos na COP27, em insistirem em manter a temperatura do planeta em 1,5 graus. Acima disso, tudo ficará tão improvável quanto a dança louca dos ventos, carregando ondas de calor e frio, sem consideração pelas quase extintas estações do ano. Tudo está ficando anômalo.
Talvez consigamos fazer dos sinais de um caos civilizatório que se desenha, um poema de reencontro entre o homem e a natureza espoliada. Parece que nem um clima de verão, numa estação de inverno, é suficiente para nos lembrar dos sinais atmosféricos que ignoramos.