Redação Capivara News
No dia 12 de agosto acontece na ACP (Sindicato Campo- grandense dos Profissionais da. Educação Pública), na Capital, o II SEMINÁRIO CANDIDATURAS NEGRAS, PERSPECTIVAS E DESAFIOS, e o site Capivara News conversou com o André Luiz S. Santos, que é Coordenador do Setorial de Combate ao Racismo do PT Campo Grande, sobre o objetivo do evento voltado à discussão da participação dos negros nas eleições. O dialogo foi feito pensando já nas eleições para prefeito e vereadores em 2024.
O Coletivo do Setorial se reúne à algum tempo, sempre debatendo e discutindo as formas de construir políticas que vá de encontro as necessidades de nossa população. E quando falamos “população” estamos nos referindo, a toda Campo Grande. Entendemos, que ao debater políticas públicas direcionadas à população negra, atingimos o interesse de todos.
Site Capivara News: Por que o negro participa pouco das disputas majoritárias?
André Luiz S. Santos – A população negra, mesmo sendo maioria na sociedade, está longe de alcançar uma representatividade política na majoritária. Existe um sistema, invisível, impedindo a ascensão e os altos postos de comando, que nossa sociedade tanto precisa.
Vejam esses dados sobre a última eleição:
André Luiz S. Santos é Coordenador do Setorial de Combate ao Racismo do PT Campo Grande – MS. (Arquivo Pessoal)
Nas as Eleições 2022, o número de candidatos negros, 14.712, superou o de brancos, o que representa 50,27% do total de inscrições (29.262). Em 2018, quando também houve eleição geral, as candidaturas negras foram 46,4% do total. Apesar disso, os dados mostram que ainda há muito a fazer para alcançar a equidade racial também entre os representantes do povo.
Embora tenha sido registrado o aumento de 8,64% entre as candidaturas negras neste pleito em relação a quatro anos atrás e o incremento de 11,4% na quantidade de eleitos em comparação ao mesmo período, em 2022, somente 32,12% negros foram eleitos.
O número ainda continua baixo, apesar de os negros serem a maioria da população brasileira, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Ainda existe o risco na câmara dos deputados de mudanças significativas, quanto ao cumprimento dos partidos quanto às cotas e quero aqui manifestar…
Na oportunidade repudiamos veementemente a PEC 09/2023, que tramita no Congresso Nacional, tem como escopo a retirada de sanções aos partidos que não preencheram a cota mínima de recursos ou que não destinaram os valores mínimos em razão de sexo e raça em eleições. Comungamos com a nota de repúdio do Ministério da Igualdade racial quando afirmam que a proposta colide com as conquistas de mulheres e da população negra que historicamente são sub-representadas no cenário político do país, não obstante componham a maior parte da população brasileira.
Apesar de 27% da população ser declaradamente de mulheres negras, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua do IBGE, esse grupo representa apenas 2% do Congresso Nacional e são menos de 1% na Câmara dos Deputados.
A Emenda Constitucional (EC) 111 foi criada para aumentar a representatividade na política e impactou diretamente nas eleições. Segundo a Agência Senado, as mulheres representam 53% do eleitorado do país, o que corresponde a 82 milhões de votantes e, apesar disso, ocupam apenas 17,28% das cadeiras.
O texto da citada emenda determina a contagem em dobro dos votos dados a mulheres e pessoas negras no cálculo para a distribuição dos recursos dos fundos partidário e eleitoral. Assim se estabeleceu que os recursos do Fundo Eleitoral sejam distribuídos a candidaturas de forma mais equitativa para que mulheres, negras e negros alcancem , de fato, viabilidade e competitividade eleitoral.
Neste sentido, é inadmissível o retrocesso representado pela PEC 09/2023 que esvazia o primeiro de muitos passos que precisam ser dados para o combate às múltiplas barreiras de acesso igualitário de mulheres e pessoas negras a cargos políticos.
Dessa forma, nós defendemos que haja respeito e garantia por parte dos dirigentes dos partidos dos trabalhadores do Mato Grosso do Sul e de Campo Grande, no sentido de não pactuar com essas atitudes que alimentam e retroalimentam o racismo estrutural e, assim, mantém o pacto da branquitude intacto.
Site Capivara News: Qual o propósito deste seminário?
André Luiz S. Santos – Nesse encontro, eu enquanto Coordenador em conjunto com os demais membros, estamos trabalhando e construindo para nossos eleitores, aquele ou aquela com a cara do cidadão de nossa Capital, que possibilitará mudanças reais. Queremos apresentar um nome que conheça a realidade da família, as dificuldades, as inúmeras provações para se chegar a seus objetivos e sonhos, a falta de recursos para dar condições e acompanhar os estudos do filho, pôr o alimento na mesa e das desconfianças que o mercado de trabalho tem sobre você!
Site Capivara News: Mas o eleitor sul-mato-grossense, em especial da Capital, está preparado?
André Luiz S. Santos – Nossa sociedade é comandada por uma elite que governa conforme seus interesses em detrimento do sofrimento das massas populares. Nosso povo sabe que essa elite nos trata como objetos, por isso acreditamos que mudanças são possíveis.
Nosso povo não percebeu que há uma dicotomia entre o trabalho manual e o intelectual. Às condições não são iguais, nenhum pai gostaria que seus filhos fossem mecânicos se pudessem ser médicos, mesmo que tivessem vocação de mecânicos. A elite considera o trabalho manual degradante, ou seja, quem trabalha com as mãos são indignos. Por isso as escolas técnicas se enchem de filhos das classes populares e não das elites. O que a elite quer é manter o status quo, filhos nas universidades públicas no campo intelectual mantendo suas benesses.
Esse sistema e estrutura política, destrói as nossas famílias, corroem a estrutura financeira, transformou nossos empregos em subempregos, ou seja, temos uma precarização do trabalho. A maior parte dos trabalhadores, que são negros, vive na informalidade e consequentemente são estes com maior redução em seus salários.
Site Capivara News: O partido dos trabalhadores já apresentou o nome de Zeca e agora Camila Jara como candidatos à prefeitura! Como um novo nome será recebido?
André Luiz S. Santos – Esse debate é muito importante e demonstra que a militância e o Partido querem o melhor para nossa Capital.
Eu defendo que o PT tenha candidatura negra para disputar nossa prefeitura.
Nosso Estado e nossa Capital tem uma população majoritariamente Negra e infelizmente nossos eleitores, fizeram e fazem suas escolhas, baseada naquilo que se apresenta. Nossos governantes representam o agronegócio e não o povo.
A elite branca sempre esteve no governo, antes e após a divisão do estado, e na capital isso não foi diferente. Os interesses voltados para o beneficiamento do plantio e latifúndio. Isso não quer dizer que estamos declarando guerra, longe disso, mas nosso sistema político precisa de mudanças, e deve ter a participação do povo.
Quando falamos de Candidatura Negra, precisamos entender que não adianta ser apenas negro, mas precisa ter um espírito voltado as questões sociais, de luta, amor para vencer as adversidades e dificuldades desse sistema arcaico e opressor, que impõe regras destrutivas ao nosso povo. Então o que precisamos é de soluções para os problemas reais.
Iremos apresentar a nossa sociedade, um nome que culmine com os anseios e desejos de cada cidadão.
Queremos e pretendemos mudar a política, e acredito piamente, que o povo campo-grandense está pronto assim como o Partido dos Trabalhadores. Estamos trabalhando para o que for melhor para o PT e nossa sociedade.
Site Capivara News: O que o setorial pretende realmente?
André Luiz S. Santos – Campo Grande tem hoje, por conta da falta de sensibilidade e compromisso de seu governante, 38 favelas, o número de moradores em estado de vulnerabilidade cresce sem auxílio da prefeitura.
A revitalização do centro da capital foi um desastre fechando inúmeras lojas e abrindo, acredite e isso é real, estacionamentos que beneficiam poucos e não geram emprego. Ernesto Geisel, está desmoronando e pode causar graves acidentes. Isso significa que investe mal os recursos e a periferia fica desassistida.
É preciso inovar pois nossa capital tem potencial pra isso. Estudar mecanismos para aumentar o incremento de novas indústrias e tecnologia, pensar em como absorver os jovens no mercado de trabalho, investindo na Cultura, saúde e educação.
Nossa capital está pronta para mudanças e nossa sociedade sabe do potencial e reconhece isso, mas falta vontade política.
André Luiz S. Santos é Coordenador do Setorial de Combate ao Racismo do PT Campo Grande – MS, formado em Tecnólogo Comércio Exterior pela UCDB 2014 e graduando em Filosofia na UFMS. Já foi Coord. do Fórum Permanente das Entidades do Mov. Negro do Estado, do Fórum de Capoeira e Vice-presidente do Conselho Municipal dos Direitos do Negro.]