Leia a entrevista exclusiva com a Sofe, uma pessoa Trans não Binária sobre Gênero, Sexualidade e Pluralidade. Sofe nasceu em 23 de fevereiro de 23, na cidade de Várzea Grande – MT, cidade vizinha de Cuiabá – MT. Filha de professora e de um pai militante e apaixonado por política.
Observatório – O seu envolvimento com o Teatro?
Sofe – Por volta dos 11/12 anos, eu me envolvi no teatro e fiz teatro até aos meus 17 anos, eu tinha um professor que sempre falava que a arte também é algo político e algo revolucionário. Sempre tive muito molejo para aturar e sempre mergulhei de cabeça nos personagens a qual eu interpretava. Me recordo que foi algo bem difícil me despedir do teatro. Mas eu penso todos os dias em voltar a atuar.
Observatório – Como foi seu contato com a política?
Sofe – O meu contato com a política foi algo muito presente na minha vida, vi meu pai envolvendo na militância desde que eu me entendo de gente (kkkk), mas eu nunca fui muito fã de política não, até os meus 13/14 anos eu odiava política, até porque eu vi um lado muito ruim da política, como perseguição, calúnia e assim vai, com isso eu não conseguia me envolver ou até mesmo gostar, porém eu sempre falava sobre alguns assuntos né, lembro da minha família falando que eu parecia gente grande conversando. Quando foi lá por 2017, ano véspera da campanha a qual o Inelegível ganharia, eu começo a me envolver mais sobre política e a me interessar a ler e entender. Conforme eu fui lendo e estudando política, eu fui me apaixonando e observando o quanto eu sou parecida com o meu pai, que todos esses tempo de vida que meu pai passou comigo, foi me encaminhando para o mundo da militância, e quando eu me dou conta, estou mergulhada até a cabeça, hoje eu amo política e acredito que não consigo viver sem.
Observatório – Você participa ativamente da UJS e é filiada no PCdoB. Como tudo começou?
Sofe – Com o tempo passando e eu ali sempre aprendendo mais sobre política, eu procuro algum coletivo para eu me organizar e lutar por melhorias. Nisso eu conheço a Ujs (União da Juventude Socialista), a qual eu sempre via nas ruas buscando por melhorias em todas as áreas e eu resolvo me filiar, com o decorrer do tempo, me filiei ao PCdoB, a qual sou apaixonada, e com isso abriu várias portas na minha vida, e hoje sou Presidenta Estadual da UNA LGBT (União Nacional LGBT-MS).
Observatório – O que fez você entrar na luta estudantil e dos movimentos sindicais e sociais?
Sofe – Como eu disse, a militância social sempre esteve presente na minha vida, quando eu estava na escola, sempre tentava entender o que estava acontecendo e cobrar por melhorias. Mas a minha vida dentro do Movimento Estudantil começou mesmo quando eu entro na universidade, ali vejo que lutar e resistir é a solução por uma universidade livre de todas as amarras. O movimento estudantil é muito importante e conquistou várias coisas, hoje eu sinto muito orgulho de estar lutando do lado de pessoas sancionais e sempre buscando melhorar a universidade, não só para mim, mas para as gerações que pisaram em solos universitários.
Observatório – No meio sindical e social você sofre com homofobia e o preconceito? Se sim o que essas entidades deveriam fazer para que haja a igualdade de gênero?
Sofe – Sim, quando falamos em preconceitos, precisamos sempre ressaltar que é algo estrutural, que está em todos os espaços. Seja ele em campo progressista ou não. Eu como uma pessoa afeminada e fora do padrão, muitas das vezes não sou ouvida ou o meu espaço de fala é negado. Precisamos quebrar todas essas barreiras e tabus dentro do campo da esquerda, principalmente buscar que pessoas como eu ocupe espaços de lideranças. Só iremos progredir de fato, quando pessoas como eu, afeminadas e pretas ocupem espaços que foram tiradas de nós. Somos capazes de debater política e de fazer política, pois sentimos e resistimos diariamente.
Observatório – No meio sindical e social você sofre com homofobia e o preconceito?
Sofe – infelizmente sim! O preconceito está em todos os espaços.
Observatório – A Prefeitura Municipal de Campo Grande abriu as portas para União Nacional LGBT-MS, que é um começo para que outros órgãos e entidades realizem o mesmo projeto. Qual foi a sua experiência e como foi a acolhida?
Sofe – Eu confesso que tudo isso é algo muito novo. Acho importante que abrimos caminhos para que outras entidades e pessoas venham ser reconhecidas nesses espaços de debate. Eu fico muito orgulhosa da minha caminhada, mas eu não estaria aqui sem ajuda de pessoas que acreditam na minha política e constrói isso comigo, lado a lado.
Observatório – O que significa LGBTQIAPN+?
Sofe – LGBTQIAPN+ é uma sigla que abrange pessoas que são Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromânticas/Agênero, Pan/Poli, Não-binárias e mais.
Observatório – O que é ser uma pessoa queer?
Sofe – Queer é uma palavra em inglês que significa “estranho”. O termo é usado para representar as pessoas que não se identificam com padrões impostos pela sociedade e transitam entre os gêneros, sem concordar com tais rótulos, ou que não saibam definir seu gênero/orientação sexual.
Observatório – O que é Binaridade de gênero?
Sofe – Termo usado para descrever a ideia de que existem apenas duas possibilidades: homem e mulher. Essas classificações são atribuídas no nascimento com base nos genitais e geram uma expectativa social de performance. Cisgênero: Alguém que se identifica com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer.